sexta-feira, novembro 28, 2008

Taça dos Campeões Europeus 1983/84 (parte II)

Como referi no anterior post sobre este assunto, calhou em sorte (ou azar) ao Benfica defrontar o poderoso Liverpool nos 1/4 de final desta edição da TCE.
Nesta equipa do Liverpool alinhavam alguns jogadores de relevo internacional (o guarda-redes zimbabuano Bruce Grobelaar, o irlandês Ronnie Whelan, os escoceses Kenny Dalglish e o nosso bem conhecido Graeme Souness e, claro, o incontornável goleador galês, Ian Rush).
Mas mais do que as individualidades (onde a veia goleadora de Ian Rush era sem dúvida um factor diferenciador), o Liverpool valia sobretudo pelo conjunto.


1ª "mão"
Ditou também o sorteio que o 1º jogo fosse na "cidade dos Beatles", no mítico Anfield Road.
Acompanhei o relato pelo rádio e a recordação que tenho foi de um jogo em que o Liverpool, jogando em casa, procurou sobretudo explorar, como típica equipa inglesa, o jogo aéreo, no qual Ian Rush era muito forte.
O Benfica tentava, acima de tudo, contrariar o caudal ofensivo do Liverpool, mas mesmo assim não conseguiu evitar que, a meio da segunda parte, o inevitável Ian Rush marcasse de cabeça em resposta a um centro no qual ficou a sensação que Bento poderia ter feito algo mais... Mais tarde, Bento justificou que foi encadeado pelos holofotes do estádio, e por isso, não pode seguir a trajectória da bola...
1-0 seria o resultado final. Apesar da derrota, a diferença mínima permitia ao Benfica ainda assim acalentar alguma esperança de, 15 dias depois, na Luz, "dar a volta" à eliminatória.


2ª mão
Este jogo foi transmitido pela RTP, o que não era muito comum, por isso, a minha expectativa era ainda maior. Afinal, íamos jogar contra uma das melhores equipas do mundo, mas por outro lado, o Benfica tinha uma das melhores equipas de que tenho memória (e que ainda no ano anterior tinha feito uma excelente campanha na Taça UEFA).
Só que o início do jogo foi bastante infeliz... Ainda não estavam decorrido 10 minutos, há um canto a favor do Liverpool. A bola sobra para Whelan, que perto da marca de penalty, cabeceia com pouca força na direcção de Bento. A bola ainda toca no chão e Bento, inexplicavelmente, deixa-a escapar por entre as pernas, acabando a bola por entrar na baliza. Em suma, um enorme "frango"... Aquilo não foi um balde de água fria, foi um enorme alguidar de gelo...
Como é evidente, a equipa acusou este golo extremamente infeliz. Tentou reagir e tomar a iniciativa de ataque, mas o Liverpool nunca deu grandes espaços para o Benfica criar perigo.
Com o Benfica balanceado para o ataque, o Liverpool tinha mais espaço para contra-atacar. De tal forma que, ainda com menos de metade da 1ª parte decorrida, o australiano Johnston faz o 0-2... O Benfica passava a precisar de marcar 4 golos para seguir em frente, ainda para mais contra o poderoso Liverpool. Ou seja, aquele golo praticamente resolvia a eliminatória.
Mas mesmo sabendo que a eliminatória estava praticamente resolvida, não quis deixar de ver o resto do jogo.
Por um lado, o Liverpool apenas tinha que se limitar a gerir a vantagem, por outro, o Benfica queria, pelo menos, deixar uma boa imagem e alcançar o golo. Golo esse que acabou mesmo por acontecer aos 75 minutos: lançamento longo para a entrada da área do Liverpool e Nené, aproveitando o adiantamento de Grobelaar, cabeçeou a bola em arco, marcando um golo bastante bonito. Esse golo pouco adiantava em termos de eliminatória, pois já não faltava muito para o jogo terminar, mas deu novo alento ao Benfica para procurar, pelo menos, o empate.
Só que enquanto o Benfica tentava chegar ao empate, o Liverpool voltou a aproveitar os espaços concedidos, e nos últimos 10 minutos de jogo, fez mais dois golos (pelo inevitável Rush e com Whelan a bisar), tornando a derrota bastante pesada...
Se, por um lado, perder com Liverpool não era nenhum "escândalo", visto tratar-se de uma das melhores equipas do mundo, à época, perder por 1-4 já era bastante mais difícil de digerir...
Como não podia deixar de ser, nos dias que se seguiram tive de ouvir as inevitáveis piadinhas de lagartos a sugerir que eu ainda ia tempo de mudar de clube (tinha 11 anos na altura) e outras parvoíces do género.
Mas ainda que esta derrota tenha sido pesada e difícil de digerir, o Benfica não se deixou abalar pela mesma. À data desta derrota, o Benfica liderava o campeonato, e apesar da forte concorrência do FCP e de um "deslize" ou outro, o Benfica manteve a liderança até ao fim e sagrou-se, muito justamente, Campeão Nacional (tal como já recordei em posts anteriores).

quinta-feira, março 01, 2007

Manuel Bento: 1948 - 2007

Manuel Galrinho Bento, um dos melhores (se não o melhor) guarda-redes de sempre do Benfica e de Portugal, faleceu hoje, deixando assim a nação benfiquista mais pobre.
O Bento é uma das figuras indissociáveis do 'despontar' do meu benfiquismo. Era ele o indiscutível titular da baliza do Benfica quando comecei a interessar-me por futebol. Foi daqueles guarda-redes que inspiravam os miúdos a quererem jogar à baliza, quando jogavam à bola (quando o normal é querer jogar "à frente").
Apesar de tudo, não podemos esquecer o riquíssimo legado de excelentes exibições e de espectaculares defesas que o Bento proporcionou (assim como de algumas célebres 'maluquices', reveladoras, no entanto, da forte personalidade) e que permitiram ao Benfica e também à selecção portuguesa alcançar importantes vitórias e títulos.

Até sempre, Bento!

segunda-feira, novembro 13, 2006

Três em um (Memórias do passado e do presente)

1. O Pedro Ferreira, no seu site Cromo dos Cromos, entrevistou um dos grandes jogadores do Benfica de todos os tempos: o Artur Correia. Infelizmente, não me recordo de ver o Artur jogar, menos ainda no Benfica, já que a sua carreira foi feita, fundamentalmente, nos anos 70 (Académica, Benfica e Sporting, tendo ainda uma fugaz passagem pelo Boston Tea Men).
A primeira memória que tenho do Artur é de uma entrevista na TV, pouco tempo depois de ter sido forçado a terminar a carreira devido a um grave problema de saúde. Também me recordo de ver um resumo de um Sporting-Benfica em homenagem ao Artur.
Como disse, nunca o vi jogar, mas do que já li sobre ele (incluindo a entrevista acima referida), sei que foi um grande jogador, que deixava em campo o que tinha e o que não tinha. Em suma, um jogador "à Benfica" (que mesmo no Sporting, não escondia o seu benfiquismo), pelo que fica aqui a memória.

2. Que o Benfica é o Maior Clube do Mundo não é nenhuma novidade. E isto independentemente do número de adeptos e de sócios activos, pois a grandeza do Benfica está muito para além disso. Mas a partir de passado dia 9 de Novembro de 2006 (que por outros motivos, já era uma data importante para o Benfica) passa a sê-lo, também, oficialmente: 160398 sócios activos!

3. Para comemorar o facto de o Benfica ser o Maior Clube do Mundo (e por feliz coincidência, 2 dias depois de o ser oficialmente), realizou-se, no passado dia 11 de Novembro, o IV Jantar de Bloguiquistas. Os participantes (para além de mim) foram (por ordem alfabética): D'Arcy, Galaad, Gwaihir, Lena, Pedro Ferreira, S.L.B., Superman Torras e, last but not least, a convidada de honra Leonor Pinhão. Mais tarde juntaram-se para o café a Trilby, o Papo-Seco e o Corto Maltese (que já não chegou a tempo sequer para o café...).
O final do nosso jantar foi brindado com um vôo da nossa águia Vitória. Depois disso, o período de prolongamento, já fora do recinto do estádio, estendeu-se para além das 3 da manhã, e motivos haveria para se estender indefinidamente, mas para conversar sobre tudo o que não conversámos teremos certamente um V Jantar e muitos mais.

segunda-feira, outubro 30, 2006

Taça dos Campeões Europeus 1983/84 (parte I)

Este é um post que já há muito estava para ser escrito... No entanto, e de acordo com a sequência cronológica que tinha em mente, ele coincidiria com a eliminatória que opunha o Benfica ao Liverpool nos oitavos de final da edição 2005/06 da Champions League, e sobre a qual um dia haverei de escrever :-) (primeira "mão": vitória por 1-0 na Luz, golão de Luisão; segunda "mão", vitória por 2-0 em Anfield Road, golões de Simão e Miccoli :-D).
A razão pela qual adiei este post (e para não ficar "parado", comecei a escrever sobre o apuramento da selecção para o Euro 1984) foi porque não me agradava muito a ideia de estar a relembrar uma eliminatória de má memória contra o mesmo adversário que o Benfica estava para defrontar.
De qualquer forma, deixo essa eliminatória contra o Liverpool para outro post. Este será sobre o percurso do Benfica até aos quartos de final da edição de 1983/84 da Taça dos Campeões Europeus.

Devo começar por dizer que, depois da excelente campanha na Taça UEFA, na época anterior, estava com grandes espectativas relativamente à TCE de 83/84.

O sorteio da 1ª eliminatória ditou-nos como adversário o Linfield de Belfast. Um adversário mais que acessível, já que o futebol norte-irlandês, do ponto de vista clubístico, tinha (e continua a ter) pouca expressão. Embora a selecção da Irlanda do Norte tivesse recentemente alcançado a fase final do Mundial de 82 (tendo inclusivamente conseguido o apuramento na 1ª fase de grupos), os seus principais jogadores (recordo-me de Pat Jennings, Armstrong, Hamilton e o jovem talento Norman Whiteside), actuavam quase todos em clubes ingleses, tal como nos dias de hoje.
Tenho uma vaga memória dos jogos desta eliminatória:
  • Primeira "mão" na Luz: o Benfica teve dificuldade em ultrapassar o "autocarro" defensivo dos irlandeses. Só com a 2ª parte adiantada é que o Benfica conseguiu "furar a muralha" e logrou inaugurar o marcador (pareço o Acácio Pestana ;-) ) - e ainda assim foi necessária a colaboração dos irlandeses, já que se tratou de um auto-golo (facto que não me recordava e que obtive por consulta aos registos desse jogo). Depois, já com a "muralha" desfeita, acabou com naturalidade por alargar a vantagem até aos 3-0 finais. O 3º golo (uma "bomba" à entrada da área), foi apontado pelo dinamarquês Manniche, tendo sido o seu primeiro em competições oficiais, se não estou em erro.
  • Na 2ª "mão", o Benfica começou mal: Diamantino, habituado a marcar golos na baliza adversária, teve a infelicidade de inaugurar o marcador com um auto-golo, colocando os irlandeses em vantagem. Mas o Benfica, mesmo sem ter a eliminatória em perigo, "puxou dos galões" e acabaria por inverter o resultado. Nesse jogo o destaque foi para Stromberg, com dois golos (primeiro e terceiro), um dos quais de grande qualidade, tal como o meu amigo S.L.B. fez questão em relembrar. O outro foi de Diamantino, que assim redimiu-se do auto-golo. Depois de estar a ganhar por 3-1, o Benfica ainda consentiu o 3-2, mas a vitória não fugiu.

O adversário seguinte foi o Olympiakos Pireus, de Atenas. O Olympiakos havia eliminado o Ajax na primeira eliminatória, pelo que era um adversário a ter em conta. A grande estrela do Olympiakos era o goleador internacional grego Anastopoulos. O que me lembro desses jogos:
  • Lembro-me que o Benfica perdeu o primeiro jogo, por 1-0 (golo precisamente de Anastopoulos, que já havia sido o 'carrasco' do Ajax na 1ª "mão"). Não me lembro muito mais, a não ser que apesar da derrota, que os comentadores diziam que o Benfica tinha todas condições para passar a eliminatória. Talvez o Benfica pudesse ter feito mais nesse jogo, mas uma derrota 0-1 não era de forma alguma comprometedora, pelo que terá preferido não arriscar sofre o 0-2 nalgum contra-ataque, e sabendo que em condições normais o Benfica, jogando em casa, dificilmente daria hipóteses ao Olympiakos
  • O segundo jogo provou, de facto, a superioridade do Benfica. Julgo recordar-me melhor desse jogo, em que o Benfica entrou a "massacrar". De tal forma que, durante a 1ª parte, o Benfica chegou aos 2-0, com golos de Filipovic e Diamantino (esta informação foi obtida com 'batota' :-) ). Não posso, mais uma vez, afirmar com certeza se assim terá sido, mas o Benfica, mesmo a ganhar por 2-0 (e de aos gregos bastar um golo para recuperarem a vantagem na eliminatória), dominou o jogo e parecia que o apuramento não iria fugir. A confirmação surgiu já na 2ª parte, com o 3-0 (que também com 'batota' sei que foi alcançado aos 75 mins. por Manniche).

O sorteio dos quartos de final colocou o Liverpool no caminho do Benfica. Fica então para o próximo post a crónica dessa eliminatória difícil de esquecer e de 'digerir'.

sábado, outubro 21, 2006

Road to Euro 1984 (parte IV)

... e chegamos ao Domingo de Novembro para o qual estava marcada a tal 'final', contra a URSS, que Portugal estava obrigado a vencer, de modo a obter o 'passaporte' para França.
Tal como nos jogos anteriores, o meu tio iria levar-me à Catedral da Luz (sem dúvida o estádio mais apropriado para um jogo desta importância), para assisti-lo ao vivo. E desta vez, também iria com um primo meu, que é sensivelmente da mesma idade que eu e um dos meus grandes amigos de infância (não obstante o defeito de estar convencido ser sportinguista, algo que ainda se mantem nos dias de hoje...), pelo que o entusiasmo era ainda maior. O jogo estava marcado, se não estou em erro, para as 15h00.
Mas chegado ao dito dia, e ao acordar, constatei que chovia torrencialmente, o que comprometia a possibilidade de ir à Luz... Estava desolado, mas não conformado...
A todo o momento ia à janela verificar se a chuva já tinha parado, quase com a convicção de que isso faria a chuva parar! O que é certo é que por volta da hora do almoço a chuva parou... E mais ainda, o Sol começava a, timidamente, aparecer, dando a entender que pretendia participar naquela tarde de futebol e iluminar, ainda que levemente, a exibição dos jogadores portugueses, bem mais habituados ao Sol que os soviéticos.
E assim sendo, e assim que terminou o almoço, o meu tio lá levou nos levou para o estádio.
Passada a ansiedade relativamente às condições climatéricas, começava então a pensar, no caminho para o estádio, sobre as dificuldades que seriam de esperar.
O resultado da primeira volta era inequívoco acerca da qualidade do adversário: a tal derrota por 0-5 em Moscovo. A equipa soviética, cuja base era formada por jogadores do Dínamo Kiev, era vista como uma espécie de "máquina de jogar à bola", pois os movimentos estavam de tal forma mecanizados que dizia-se que os jogadores faziam os passes sem olhar, pois se o fizessem para determinado sítio, sabiam que iriam encontrar um colega de equipa para o receber. Dessa equipa, recordo-me de alguns jogadores (não sei se terão jogado na Luz): Dasaev (claro! um dos melhores guarda-redes de sempre), Blokhin (a estrela da companhia e o mais perigoso jogador do ataque soviético), Demianenko, Bessonov, Gavrilov e Bal. O treinador era o mítico Valery Lobanovsky, que acumulava funções com a de treinador do Dínamo Kiev.

Tinha consciência que para ganhar o jogo, Portugal iria necessitar de um momento de inspiração de Chalana ou Carlos Manuel e do sentido de oportunidade de Gomes e Jordão, pois não era previsível que ocorressem muitas situações de golo.

O jogo finalmente começou, e a toada foi a esperada: Portugal mais ofensivo, mas a URSS a controlar bem os acontecimentos. Não era fácil para Portugal criar oportunidades de golo, mas em compensação, os soviéticos também não pareciam muito preocupados em explorar o contra-ataque (até porque Portugal também não estava a arriscar "à maluca", sabendo desse potencial perigo).
A acabar a primeira parte, o tal momento decisivo surgiu: Chalana 'pegou' na bola, e tentou, bem à sua maneira, tirar partido dos seus dotes técnicos e "furar" a defesa soviética em jogada individual. Sobre a linha da grande área, Chalana cai...Fora ou dentro? Rasteira ou 'mergulho'? No estádio fiquei com a sensação que havia sido dentro da área, mas que Chalana havia "forçado" a queda... Mais tarde, as imagens televisivas demontravam precisamente o contrário: Chalana é, de facto, rasteirado, mesmo no limite da área, mas no exterior da mesma... Em todo o caso, o árbitro marcou penalty. E não me recordo de os jogadores soviéticos protestarem muito... possivelmente era algo que, por força das circunstâncias políticas da época, se tinham habituado a não fazer...
E lá estava a tal oportunidade única: dificilmente Portugal voltaria a ter uma oportunidade tão flagrante para marcar. A responsabilidade recaiu sobre Jordão... Eu estava ansioso, mas também confiante, pois sabia que nestas alturas, Jordão era praticamente infalível, ainda que entre os postes estivesse aquele que seria, possivelmente, o melhor guarda-redes do mundo: Rinat Dasaev.
Felizmente, Jordão manteve a frieza e conseguiu "enganar" Dasaev, remantando para a esquerda deste, que, por sua vez, se lançou para a direita. GOLO!!!!!!!
A primeira parte terminou pouco tempo depois.

Para a segunda parte eu esperava uma URSS fortemente pressionante. Mas não tenho a ideia de isso ter acontecido. Tudo o que me recordo foi de um remate às malhas laterais da baliza de Bento, que no momento deu a sensação de golo (e um arrepio na 'espinha'). Tirando esse lance, não me recordo de a baliza portuguesa ter sido fortemente ameaçada, mas também não me recordo de Portugal ter estado perto de ampliar a vantagem.

Saí do estádio com uma sensação de orgulho, pois um país pequeno como Portugal (mas ainda assim, com grande jogadores e, como tinha acabado de provar, também como uma grande equipa, sabendo que a primeira nem sempre implica a segunda...), tinha acabado de se apurar para o campeonato da europa, numa altura em que apenas 8 equipas se qualificavam, ainda para mais, em detrimento de uma das selecções mais poderosas da altura: a URSS.
Já estava ansioso pela fase final do europeu, mas ainda havia muito tempo até lá, pelo que sempre podia "concentrar-me" no meu Benfica...

terça-feira, outubro 10, 2006

Road to Euro 1984 (parte III)

Para alcançar o apuramento para a fase final do Euro 1984, pela primeira vez na sua história, Portugal tinha duas autênticas 'finais' para disputar. A primeira, à qual se refere esta crónica, seria contra a Polónia, em Wroclaw.
Recordo-me de, no dia do jogo, disputado em Outubro de 1983, estar ansioso em relação ao mesmo e de recear perder um momento que fosse da transmissão televisiva, já que se disputou, estranhamente, numa 6ª feira, dia da semana em que tinha aulas à tarde (na altura frequentava o 1º ano do ciclo preparatório - actualmente designado por 5º ano). Tanto mais que a hora que tinha registada como sendo a de início do jogo era 16h00 e as minhas aulas acabavam às 16h30. Como era um rapaz muito bem comportado :-), ainda assim resisti à tentação de me "baldar", até porque as consequências podiam ser bem desagradáveis...
Assim que terminou a última aula, eu e um colega meu, que também era meu vizinho, desatámos a correr para casa (que não sendo propriamente longe da escola, naquele dia parecia ficar a anos-luz de distância), para apanhar pelo menos a 2ª parte.
Ao chegar a casa, fiquei espantado por o jogo ainda não ter começado... Não me recordo a que horas teve início o jogo, mas felizmente era consideravelmente mais tarde que as 16h00 que tinha em mente.

Quanto ao jogo, estava bastante curioso acerca da atitude que Portugal iria assumir. Como referi num post anterior, a Polónia era considerada uma das melhores selecções europeias da altura (3ª classificada no mundial de 82).
No entanto, enquanto que a Polónia já nada tinha a perder (com 2 derrotas e 1 empate já estava arredada do apuramento), Portugal tinha de jogar tudo por tudo, mesmo apesar de estar a jogar fora.
Em suma, tinha de assumir o controlo do jogo, o que não era muito habitual nas equipas portuguesas, quando jogando fora.
Embora há distância de mais de 20 anos me seja difícil recordar dos pormenores do jogo, recordo-me de Portugal ter assumido o controlo do jogo que se impunha, perante a necessidade de ganhar. O facto é que com a qualidade do jogadores de que dispunha, tinha todas as condições para isso.
De facto, nesse jogo sobressairam algumas das qualidades que ainda hoje são reconhecidas ao futebol português: grande capacidade para fazer circular a bola e grande mobilidade dos jogador. Recordo-me de dois jogadores que foram fulcrais nesse jogo: o Gomes, que sendo ponta de lança, recuava muitas vezes para 'fazer jogo' com os colegas do meio campo e do Carlos Manuel, o grande dinamizador de jogo.

A primeira grande oportunidade de golo de que me recordo pertenceu ao Carlos Manuel, em que apareceu isolado, à entrada da área, descaído para a direita, mas chutou por cima.
Provavelmente o Carlos Manuel estaria 'apenas' a treinar-se já que, ainda na primeira parte, e num remate praticamente da mesma posição em que havia falhado o anterior, o Carlos Manuel conseguiu rematar com sucesso, obtendo o único golo do jogo. Um excelente golo diga-se, não só pelo remate em si, mas também pela jogada, onde sobressaíu a sequência de 'tabelinhas' entre o Carlos Manuel e o Gomes.

Como a memória não dá para tudo, já não me lembro tão bem da segunda parte. A principal preocupação terá sido, certamente, defender o resultado.
Mas como na grande maioria dos jogos de futebol, o que fica, em primeiro lugar, para a história, é o resultado. E para quem teve a oportunidade de assistir ao jogo, os golos marcados.

A primeira 'final' estava ganha, faltava a derradeira e, porventura, mais difícil 'final': contra a URSS, no Estádio da Luz.

sábado, abril 29, 2006

Road to Euro 1984 (parte II)

Depois da pesada derrota sofrida, em Abril de 1983, na então União Soviética e da substituição da equipa técnica, Portugal retomava a sua campanha de apuramento em Setembro do mesmo ano.
O adversário era o ideal para Portugal relançar as suas expectativas de apuramento: a Finlândia (na altura bastante mais fraca do que é hoje). O jogo disputava-se no Estádio de Alvalade e mais uma vez, tive a oportunidade de o presenciar ao vivo.
A tendência do jogo era óbvia: Portugal a atacar, a Finlândia a defender. Na verdade, a Finlândia colocou várias filas de "autocarros" à frente da baliza, já que os médios eram mais uma linha defensiva e os avançados quase nem entravam no meio campo português.
A verdade é que Portugal estava a sentir dificuldades em criar verdadeiro perigo; havia pouco espaço para jogar perto da área finlandesa, e também não servia de muito "despejar" bolas para a área, em virtude da elevada estatura característica dos escandinavos.
Tipicamente, estava a ser daqueles jogos em que era necessário a todo o custo marcar um golo para alterar o rumo do mesmo. E já que era muito difícil criar perigo perto da área, foi Jordão (mais um grande jogador que tive o privilégio de ver jogar - inclusivamente com a camisola errada...), que apanhou a bola a uns 25 metros da baliza e disferiu um pontapé fortíssimo e colocado ao ângulo superior direito da baliza finlandesa. Finalmente, estava encontrado o caminho para a vitória!
Pouco depois, Carlos Manuel fez o 2-0, num remate também de fora da área, mas rasteiro, que provavelmente o GR finlandês não terá visto partir devido à "floresta" de pernas de jogadores finlandeses (que continuavam a preferir defender que arriscar o ataque - talvez temendo a goleada...).
A partir daqui Portugal passou, como é natural, a jogar de forma mais desinibida, mas o 2-0 manteve-se até ao intervalo.

Para segunda parte, um momento importante na história da Selecção: a entrada de Paulo Futre, que ao estrear-se em representação da Selecção Portuguesa, tornou-se o jogador mais novo a fazê-lo (batendo o record até então detido por Chalana: não sei quais as idades exactas de cada um, mas tinham ambos 17 anos e alguns meses; naturalmente, o Futre com menos alguns meses que o Chalana...).

Como seria de esperar, Portugal jogou de forma bastante mais descontraída na 2ª parte, e a goleada construiu-se com naturalidade.
O 3-0 surgiu, creio eu, logo no início da mesma, marcado por outro benfiquista, o José Luís, numa jogada em que apareceu isolado diante do GR finlandês.
O 4-0 resultou de um auto-golo e o 5-0, já perto do final, foi marcado, num desvio de cabeça do Oliveira junto ao poste direito.

Em suma, foi daqueles jogos cuja história se resume aos golos marcados, à qual há a acrescentar a estreia do Futre, pelo facto de se ter tornado o jogador mais jovem de sempre a representar a selecção.
Mais importante que tudo, as esperanças de apuramento mantinham-se intactas, pois a URSS havia empatado na Polónia, pelo que as contas eram muito 'simples': ganhar os dois jogos que restavam: à Polónia (fora) e à URSS (em casa).
Facto não tão relevante (mas que nem por isso deixou de ser importante para a selecção), foi a estreia da nova equipa técnica constituida por 4 elementos, em substituição de Otto Glória: Fernando Cabrita, António Morais, Toni e José Augusto