segunda-feira, fevereiro 13, 2006

Road to Euro 1984 (parte I)

Após mais uma prolongada ausência, e considerando que, para descrever as minhas memórias, tenho procurado seguir uma certa sequência cronológica agrupando todos os posts relativos a uma determinada competição, teria agora de falar da campanha do Benfica na TCE 1983/84. Mas como o que há de mais relevante a dizer acaba por ser uma memória nada feliz (embora difícil de esquecer...), ainda para mais envolvendo o próximo adversário do Benfica na Liga dos Campeões, vou deixar esse post para mais tarde, e dedicar alguns posts à brilhante campanha da Selecção Portuguesa no Euro 1984, que culminou com uma emocionante 1/2 final e que com alguma infelicidade perdemos para o país anfitrião - a França (vencedora da competição).
O desempenho brilhante da selecção começou pela fase de apuramento, onde teve de enfrentar selecções como a poderosa URSS e uma Polónia que vinha de um 3º lugar no Mundial de 1982. Do grupo constava também a Finlândia, inquestionavelmente a selecção mais fraca (hoje em dia não seria assim tanto...).

Esta fase de apuramento pode ser, claramente, dividida em duas partes, tendo a 1ª (relatada neste post) terminado com a pior derrota da Selecção de que tenho memória, e que acabou por ser um ponto de viragem, que começou pela substituição da equipa técnica - Otto Gloria, treinador intimamente ligado ao Mundial de 66 e que também conduziu o Benfica nos anos 50 e 60, foi substituido por uma equipa técnica constituida por Fernando Cabrita, António Morais, José Augusto e Toni, que acompanhou a selecção até à referida meia final.

O apuramento começou bem, com Portugal a cumprir a sua obrigação, derrotando a Finlândia ("fora") por 2-0, com golos de Nené e Oliveira (na altura jogador do SCP). Só me lembro do resultado deste jogo, pois possivelmente estaria de férias quando ocorreu, para além de que não ligava ainda muito à selecção, nessa altura. Interessava-me, sobretudo, pelo facto de os na selecção jogarem muitos dos principais jogadores do Benfica, tais como o Humberto Coelho (que também era o "capitão" da selecção), do Nené, do Carlos Manuel, do Alves, do Chalana, do Bento, para não falar do Pietra e do Shéu... (para além de, com eles, jogar um jogador que apesar de representar um clube adversário, sempre admirei: o Jordão).

(imagens como sempre cedidas por um dos maiores Benfiquistas à face da terra: o S.L.B.)

1-0, por Nené


2-0, por Oliveira


Melhor ainda, foi a vitória sobre a Polónia, no Estádio da Luz, tendo sido este o primeiro jogo da selecção que tive oportunidade de assistir ao vivo, o que naturalmente, contribuiu para que o meu interesse pela selecção passasse a ser maior.
A minha primeira reacção, quando o jogo começou, foi de alguma estranheza... Primeiro, acho que foi aí que Portugal passou a utilizar o seu equipamento, agora habitual, de camisola encarnada e calções verdes (até aí, habitualmente os calções eram brancos, ou seja, o equipamento era praticamente identico ao do Benfica).
Depois, foi ver jogadores que tinha dificuldade em reconhecer, sobretudo na defesa, para além de as numerações das camisolas dos jogadores do Benfica seleccionados não corresponderem ao habitual (ex: Chalana com o nº8, já que o nº10 era o Oliveira, e acho que o Carlos Manuel com o nº11...).
Do jogo propriamente dito, tenho a ideia que Portugal começou bem e da forma que se impunha: ao ataque e a trocar bem a bola. Penso que foi com naturalidade que Portugal acabou por marcar, tendo o primeiro golo sido do Nené, numa cabeçada em "mergulho" à entrada da pequena área, a centro do Chalana da esquerda, e o segundo do Gomes, creio que bastante parecido com o do Nené (não me lembro de quem foi o centro...). Ambos os golos foram marcados na 1ª parte.
A partir daí, o jogo não foi tão interessante (pelo menos que eu me lembre), e a Polónia (da qual Boniek era o seu melhor jogador, tendo na baliza o também nosso bem conhecido Mlynarczyk) não se revelou propriamente perigosa. Ainda assim, acabou por marcar na última jogada, após a marcação de um canto em que a defesa portuguesa se distraíu por causa de um jogador polaco caído dentro da área, à espera que o árbitro interrompesse o jogo. Os polacos aproveitaram a distracção e marcaram...

1-0, por Nené


2-o, por Gomes


O terceiro jogo foi o tal da "desgraça", tendo ocorrido em Abril de 1983. Lembro-me de ter visto apenas alguns momentos do jogo, já que nesse dia fui ao casamento de um tio meu... Só a espaços conseguia ir "espreitar" a transmissão televisiva do jogo, mas de cada vez que tal acontecia, Portugal sofria um golo... Lembro-me relativamente bem do 4-0 (creio eu), marcado por Demianenko (também não tenho a certeza...), em que Bento andava totalmente "às aranhas", completamente desamparado tal a fragilidade revelada pela defesa portuguesa (disto lembro-me eu!). Aliás, creio que essa fragilidade teve uma explicação: a ausência de Humberto Coelho, que se tinha lesionado gravemente num treino uns dias antes (acho eu...), tendo sido essa lesão que praticamente pôs termo à sua carreira como futebolista. Sem o seu líder natural, a defesa portuguesa terá tido dificuldades para travar o futebol "maquinal" dos soviéticos (maioritariamente provenientes do Dínamo Kiev), que perante uma defesa portuguesa vacilante, não perdeu o ensejo para a "triturar".
Até ao Verão (e final da época 82/83), não houve mais jogos de apuramento, e entretanto, Otto Glória não resistiu aos maus resultados (que incluiram uma derrota por 0-3 com a França, antes do desaire de Moscovo, e já depois, uma derrota por 0-4 com o Brasil, ambas em jogos particulares e realizados em Portugal), ocorrendo a tal alteração da equipa técnica acima mencionada.

Emendas:
  • Como já foi comentado, Humberto Coelho não se lesionou na véspera do jogo com a URSS em Moscovo (mas sim antes da recepção à Finlândia, alguns meses mais tarde).
  • Por outro lado, e como é possível constatar nas imagens, o golo de Gomes frente à Polónia (jogo disputado no Estádio da Luz), que colocou o resultado em 2-0, foi marcado na 2ª parte e a única coisa que teve de parecido com o golo de Nené foi, para além de ter sido golo, o facto de ter sido favorável a Portugal :-)