quinta-feira, setembro 29, 2005

Taça UEFA 1982/1983 - parte II (eliminação da AS Roma)

Depois de ultrapassado o Zürich, o sorteio ditou que a poderosa AS Roma seria o adversário do Benfica nos quartos de final da Taça UEFA 1982/83.
O meu pensamento foi que, muito provavelmente, iria acabar por ali a caminhada europeia (mas obviamente acreditando sempre na possibilidade de ultrapassar este dificil obstáculo: se o fizesse, seria quase como ser campeão!).
Não pude assistir ao jogo da 1ª mão, em Roma (nem sequer ao relato), porque foi disputado ao início da tarde e eu estava nas aulas (frequentava a 4ª classe, na altura).
Durante um intervalo, um colega meu soube, não sei como, do resultado, que se apressou a transmiti-lo: vitória do Benfica por 2-1! Seguiu-se a cena de eu e uns colegas meus andarmos aos pulos pela escola a celebrar a vitória do Benfica! Ganhar à Roma foi, para mim, dos maiores feitos alcançados pelo Benfica de que tenho memória. Mesmo nos dias de hoje, se pensarmos que foram raras as vezes que equipas portuguesas derrotaram equipas italianas nas competições europeias, vencer a Roma continuaria a ser um grande feito, embora a Roma já não seja tão forte como era na altura.
O grande herói desse jogo fora novamente Zoran Filipovic, ao marcar os dois golos do Benfica, que chegou mesmo a estar a ganhar por 2-0.

(Fotos gentilmente cedidas por S.L.B.)

0-1


0-2

Do jogo da segunda mão, do qual já tive a oportunidade de acompanhar o relato (por ter sido à noite), recordo-me que, durante a primeira parte, o Benfica fez o 1-0. Naturalmente, aquele golo dava algum conforto ao Benfica, e pensava eu que a eliminatória estaria resolvida.

1-0
No entanto, a partir desse golo, e creio que sobretudo na 2ª parte, a Roma exerceu uma forte pressão para recuperar a desvantagem de dois golos. Mesmo apesar da vantagem, comecei a ficar preocupado com o decorrer do jogo e com o facto de praticamente só a Roma atacar.
Perto do fim, a Roma chegou mesmo a marcar, por intermédio de outro grande jogador da altura: o brasileiro Falcão. Tenho até a ideia de o Falcão ter sido a figura do jogo, não só pelo golo, mas por ter sido o dinamizador da tentativa de recuperação da Roma.
Nos minutos finais, após o empate, lembro-me mesmo de ter ficado com a "cabeça à roda" de tanta ansiedade, pois a Roma massacrou, numa tentativa desesperada de alcançar o prolongamento - naquelas circunstâncias, seria péssimo que, depois de tudo o que Benfica havia conseguido, sobretudo na 1ª mão, ser obrigado a ir a prolongamento.
O fim do jogo foi um verdadeiro suspírio de alívio e de contentamento, mas também de algum desapontamento por o Benfica não ter ganho o jogo... Afinal, tínhamos ganho em Itália, por que raio não fomos também capazes de ganhar o jogo em casa?...

segunda-feira, setembro 26, 2005

Taça UEFA 1982/1983 - parte I (chegada aos quartos de final)

Não há dúvida que o meu benfiquismo foi fortemente marcado pelas épocas de 82/83 e 83/84, onde para além da excelente equipa que o Benfica possuia, o treinador era aquele que eu considero o melhor treinador que o Benfica teve, desde que me lembro - Sven-Goran Eriksson. Em Portugal, e até à data, só mesmo o José Mourinho poderá disputar o estatuto de melhor treinador de uma equipa portuguesa. Ainda assim, em relação a Mourinho, Eriksson tem uma grande vantagem: é um verdadeiro gentleman. Ainda me lembro que, sempre que ele era entrevistado, fazia sempre um sorriso antes de começar a responder às perguntas. Um dos grande feitos do Eriksson foi ter devolvido ao Benfica o estatuto de grande clube europeu, através da magnifica campanha na edição 1982/83 da Taça UEFA.Começo por relembrar o percurso até aos quartos de final (exclusivé... a eliminatória com a AS Roma fica para outra "posta").
  • 1ª eliminatória (Benfica-2, Bétis-1 / Bétis-1, Benfica-2):
    Da primeira mão, lembro-me essencialmente do resultado e do facto de, estando a ganhar por 2-0 até perto do final do jogo - golos de Nené (penalty) e Padinha (das poucas coisas de jeito que terá feito no Benfica... ) e de o Benfica ter consentido o golo do Bétis já relativamente perto do fim (transformando um confortável 2-0 num incómodo 2-1).
    Da segunda mão, lembro-me de o Benfica sofrer o 1-0, de estar a perder por esse resultado ao intervalo (que eliminaria o Benfica, caso o jogo terminasse naquele momento), de começar a 2ª parte e os meus pais me obrigarem a ir tomar banho (eu sabia que tinha de ir, mas o jogo estava demasiado emocionante para perder um segundo que fosse...). Uma vez que os meus pais estavam determinados em que eu cumprisse os meus deveres higiénicos e eu determinado em ouvir o jogo, levei o pequeno transistor com o qual costumava ouvir os relatos para o banho... E foi lá que berrei o golo do empate do Benfica (do Carlos Manuel)! Já depois de sair do banho o Benfica ainda alcançou a vitória, com um golo do Nené, abrilhantando assim a vitória na eliminatória com uma vitória difícil no campo do adversário, e ainda por cima, recuperando de uma situação de desvantagem.
    Recentemente, li - não me recordo onde, mas acho que no já mencionado livro "A Luz Não Se Apaga" - o testemunho de um jogador do Benfica (se não do próprio Eriksson) a propósito desta 2ª eliminatória: o Benfica estava a perder ao intervalo por 1-0, e os jogadores pareciam resignados, ainda para mais estando a jogar fora, era como se houvesse pouco a fazer. Nesse intervalo, Eriksson ter-lhes-á dado um "puxão de orelhas", exigindo que jogassem fora da mesma maneira como jogavam em casa, salientando que não havia qualquer razão para que não o fizessem, sobretudo sendo superiores ao adversário e necessitando de marcar. Acho que este testemunho caracteriza bem a filosofia do Eriksson e a razão pela qual o Benfica foi tão bem sucedido sob o seu comando.
(As seguintes fotos, referentes ao golos do Benfica no jogo da 2ª mão, em Sevilha, são cortesia do S.L.B.)

O golo do empate (1-1)


O golo da vitória (1-2)


  • 2ª eliminatória (Benfica-2, Lokeren-0 / Lokeren-1, Benfica-2):
    Não me recordo muito bem dos jogos desta elimitória frente esta equipa belga, mas tenho a ideia que a vitória na 1ª mão foi tranquila (golos de Nené e Pietra).
    Na 2ª mão, em que o Benfica chegou a estar a perder por 1-0, "surgiu" Filipovic, que veio a ser a grande figura do Benfica nessa edição da Taça UEFA, ao marcar os 2 golos do Benfica que garantiram mais uma vitória e mais uma recuperação de um resultado desfavorável fora de casa (embora neste caso, o resultado da 1ª mão garantia o apuramento, caso o jogo terminasse naquele momento). Ou seja, o importante mesmo foi não só o apuramento mas o facto de o Benfica, ao ganhar, demonstrar mais uma vez a sua superioridade sobre o adversário, no terreno deste.

  • Oitavos de final (FC Zürich-1, Benfica-1 / Benfica-4, FC Zürich-0):
    Assisti ao jogo da primeira mão pela televisão e tenho a vaga ideia de que o Zürich, jogando em casa, terá sido quem mais atacou. Acabou por marcar já durante a 2ª parte, por intermédio de Wynton Rufer (jogador neo-zelandês que, mais tarde, se destacou no Werder Bremen). O Benfica reagiu, e acabou por empatar já perto do fim, com um golo do Filipovic, na recarga a um remate do Nené, creio que ao poste (e na sequência de um canto). Sem ser óptimo, o resultado servia naturalmente os interesses do Benfica. Ainda assim, fiquei ligeiramente desapontado por o Benfica não ter ganho o jogo...
    O jogo da 2ª mão segui através de relato. O Benfica fez o 1-0 relativamente cedo, com um golo do grande Filipovic. Na segunda parte, o Benfica partiu para a goleada: golos de Diamantino (outro grande jogador, que na altura era muitas vezes utilizado como ponta-de-lança) e Nené (dois golos, 1 deles de penalty, já próximo do fim). Não sendo o Zürich propriamente uma equipa de topo europeu, não deixei de ficar orgulhoso com o facto de o Benfica ter alcançado uma goleada numa fase já relativamente avançada de uma prova europeia.
Cenas do próximo capítulo: eliminação da AS Roma...

PS: desta vez, fiz um pouco de batota para escrever alguns dos factos aqui relatados. De qualquer forma, o mais importante não são os factos exactos em si mas a importância que para mim tiveram estas vitórias e a recordação que tenho disso mesmo.

segunda-feira, setembro 12, 2005

FCP-0, Benfica-1: Final da Taça 1982/83

Depois de o Benfica ter ganho o campeonato, preparava-se para enfrentar mais uma vez o FC Porto numa final de taça.
Naturalmente, estava tudo planeado para que o jogo se disputasse no Estádio Nacional, no Jamor, como era tradição.
No entanto, a direcção do FCP contestou veementemente que o jogo se disputasse, como habitualmente, naquele estádio, por considerar que tal favorecia os clubes do sul e argumentando com todo o blah blah daquela conversa regionalista do Norte vs. Sul que caracteriza o período áureo do FCP (que estava prestes a começar): não há dúvida que a designação de clube regional que o meu amigo S.L.B. utiliza para ser referir ao FCP, assenta que nem uma luva...
Com todo o impasse pela recusa do FCP em jogar no Jamor, a final foi adiada para Agosto (para a semana anterior ao início do campeonato) e deslocada para um campo neutro na cidade do Porto: o estádio da Antas...
Eu só pensava numa coisa: se o Benfica é a melhor equipa, vamos ganhar este jogo, mesmo no estádio das Antas!
E assim foi: com um golo do Carlos Manuel, resultante de um dos seus remate-bomba que o caracterizavam (creio que por volta dos 20 mins de jogo), o Benfica alcançou a vitória. Foi das vitórias do Benfica que, até hoje, mais prazer me deram!

Os meus agradecimentos ao S.L.B. pelas imagens do golo.
Diga-se também que o Carlos Manuel era, já na altura, o meu jogador preferido do Benfica ("destronando" o Nené e o Alves...), o que aconteceu durante alguns anos (a minha camisola do Benfica tinha o nº6, habitualmente usado pelo Carlos Manuel).