segunda-feira, outubro 17, 2005

FC Porto - 0, Benfica - 2: Campeonato 1990/91

Sábado, dia 15 de Outubro de 2005, 21:00.
Quando está prestes a iniciar-se, no estádio do Dragão, mais um FCP-Benfica, recuo na memória, pela milionésima vez neste dia, até ao dia de Abril de 1991 marcado para o confronto entre estas duas equipas na cidade do Porto (então no estádio das Antas), em jogo a contar para o campeonato da 1º divisão da época de 1990/91.
Antes desse jogo começar, o Benfica liderava o campeonato com a vantagem de apenas 1 ponto sobre o adversário desse dia, o FCP. Para o FCP, era crucial vencer esse jogo, pois já não faltavam muitas jornadas para o final do campeonato. Em caso de empate, obviamente que o Benfica seria a equipa que mais beneficiaria com o mesmo.
O ambiente criado para a "recepção" ao Benfica, pelas hostes portistas, foi terrível. O autocarro do Benfica foi apedrejado à chegada, os jogadores não puderam equipar-se nos balneários devido ao intenso e insuportável odor e já no relvado, constatou-se que as faixas laterais tinham sido regadas para dificultar a movimentação dos extremos do Benfica (Vítor Paneira e Pacheco), um dos seus principais recursos ofensivos.
Em campo, a história foi outra. O Benfica controlou o jogo de início ao fim. Durante a primeira parte, a melhor situação de golo foi criada pelo médio sueco Jonas Thern (outro grande jogador que representou o Benfica e que com Valdo formava uma óptima dupla no meio campo) a enviar a bola ao poste, após remate de fora da área. Chegado o intervalo, com 0-0 no marcador, lamentei, como sempre, o facto de não termos marcado naquela situação, pois nestes jogos, o desperdício de oportunidades pode ser fatal.
Na segunda parte, o Benfica continuou a controlar o jogo, na medida em que o FCP não estava a revelar-se particularmente ameaçador e era ao Benfica a quem mais interessava o empate.
Eu naturalmente pensava que o empate era um bom resultado, mas temia que, numa bola parada ou num lance furtuito, o FCP alcançasse os seus intentos...
Para a recta final do jogo, o Eriksson (que havia regressado ao Benfica na época anterior) resolveu lançar o César Brito no jogo. Ao saber que ele iria entrar, pensei que o Rui Águas (outro grande jogador, para mim o melhor avançado português desde que o Nené e do Jordão chegaram ao fim das suas carreiras) seria o candidato a sair, de modo a refrescar o ataque.
Mas quem saíu foi o Pacheco... Ou seja, o Eriksson terá percebido que o Benfica tinha ali uma excelente oportunidade para ganhar o jogo, ao colocar um avançado no lugar de um médio-ala.
O que é certo é que, passado não muito tempo após a entrada do César Brito, o Vítor Paneira, numa jogada pela direita, faz aquilo em que era exímio: ir à linha e centrar para a cabeça de um avançado, com uma enorme precisão. O avançado a quem o centro se destinava era o próprio César Brito, que aperece ao primeiro poste, isolado, a corresponder da melhor forma ao centro do Paneira: golo!!

(imagens dos golos cedidas por... advinhem quem ;-) ? )
Não me recordo de, antes daquele jogo, e em jogos para o campeonato, o Benfica ter estado alguma vez em vantagem frente ao FCP, nas Antas, quanto mais ter ganho um jogo. Por isso, e uma vez que faltava apenas 10 mins. para o fim do jogo, preparava-me para assistir a um momento histórico.
Ainda estava eu a pensar se o Benfica iria conseguir segurar a vantagem, quando numa jogada pelo lado esquerdo, o Valdo, com um passe fantástico, deixou o César Brito isolado, cara-a-cara com o Vítor Baía. Perante a saída do Baía, já em queda a tentar fazer a "mancha", o César Brito, com grande calma, colocou-lhe a bola por cima, fazendo assim o 0-2, a cerca de 5 mins do fim!

Tal como o jogo estava a decorrer, com o Benfica a controlar os acontecimentos e a ganhar por 2-0 tão perto do fim, tinha a certeza que a vitória não iria fugir. E de facto, assim foi. Pela primeira vez na minha "carreira" de benfiquista, vi o Benfica a derrotar o FC Porto no estádio das Antas, ainda para mais, em circunstâncias que colocavam o Benfica em vantagem privilegiada para se sagrar campeão (tal como veio a acontecer), aumentando a vantagem para 3 pontos (na altura as vitórias valiam apenas 2 pontos).

O que sucedeu depois do jogo (agressões e ameaças a dirigentes do Benfica, onde se destacou essa figura tristemente célebre, o guarda Abel), apenas menciono para registar o facto, já que este não é o espaço para discutir a gravidade dessas ocorrências e o mau perder de certos portistas.
E embora eu tivesse preferido que essas cenas não tivessem ocorrido, acabaram por servir para valorizar a vitória - merecida, diga-se - do Benfica!

Mais importante que isso, para a história ficaram, acima de tudo, e para além do resultado, os dois excelentes golos do César Brito, que deste modo conquistou um lugar na galeria de heróis benfiquistas!

César Brito festejando a vitória, com o capitão António Veloso (à direita) e o sueco Mats Magnusson em plano de fundo.
(Foto gentilmente facultada pelo
Francis)

Regressando ao dia 15 de Outubro de 2005, antes de o jogo se iniciar, estou confiante que é desta vez, passados 14 anos sem que entretanto o Benfica tenha logrado vencer no terreno do FCP (que entretanto passara a ser o estádio do Dragão), que o Benfica vai repetir a proeza para a qual, naquela tarde de Domingo de Abril de 1991, o herói César Brito contribuiu com os seus 2 golos.
O que se passou nas quase 2 horas seguintes naturalmente também me ficou na memória (que espero mais tarde transcrever). Para já, a importância do resultado final foi para mim motivo para antecipar o relato daquela vitória de 1991, quebrando excepcionalmente a sequência cronológica que tenho seguido para escrever os meus posts.

9 Comments:

At 12:19 da manhã, Blogger Pedro F. Ferreira said...

Sobre esse jogo passa por aqui:
http://www.abola.pt/colunistas/index.asp?op=ver&texto=1702

 
At 12:12 da tarde, Blogger S.L.B. said...

A questão iniciou-se três anos antes, quando o presidente do clube regional veio à Luz roubar-nos o Dito e o Rui Águas, quebrando o pacto de "não agressão" que havia entre os três grandes naquela altura e dias depois de ter dito nos jornais que não viria buscar esses jogadores ao Benfica. Mas os acontecimentos desse jogo foram a "gota de água" para mim. O meu ódio (lamento se a palavra for forte, mas não há outra melhor) por esse clube consolidou-se definitivamente nessa altura e fez-me lamentar profundamente ter ficado contente com a conquista por parte desse clube da Taça dos Campeões frente ao Bayern em 86/87. O que se tem passado desde essa altura, infelizmente, não me tem dado razões para mudar de opinião, antes pelo contrário. Pode ser que um dia, quando as pessoas que estão à frente desse clube se forem embora e ele deixe de simbolizar tudo aquilo que eu abomino no desporto (falta de fair-play, não olhar a meios para atingir os fins, passar por cima de tudo e de todos, usar expedientes ilícitos para ganhar jogos, intimidações constantes aos adversários, etc), as coisas mudem, mas até lá...

 
At 12:32 da tarde, Blogger Francis said...

Um grande salto no tempo.
Tens de me enviar o teu endereço que vou te enviar uma disquete com algumas imagens. É mais fácil para mim. Pois ontem perdi tempo a tentar enviar-te um mail, mas a transferência falhou.
P.S. Vou-te mandar uma do César Brito, cuja imagem diz tudo.
Abraço.

 
At 10:18 da manhã, Blogger D'Arcy said...

Sobre esse jogo nas Antas, dois factos:

1- Na primeira parte ficou um penalty descarado por marcar por falta julgo que do Aloísio sobre o Pacheco.Era a pressão sobre o Carlos Valente a dar resultados.

2- O César Brito, por motivos óbvios, ficou para a história por causa desse jogo. Mas isso fez com que um dos grandes motivos para a vitória do Benfica não fosse falado: o jogo extraordinário do Valdo. A exibição que ele fez nesse jogo foi memorável, e o próprio Valdo considera que esse foi um dos melhores jogos da carreira dele.

 
At 11:20 da manhã, Blogger tma said...

HMémnon: obrigado pelo artigo, já que fala precisamente daquilo que não quis aprofundar neste post

SLB: Eu já na final de 86/87 não festejei a vitória do FCP. Embora o Benfica tenha perdido o campeonato anterior por culpa própria (derrota na penúltima jornada, em casa, frente ao SCP), para benefício do FCP, a verdade é que houve jogos em que o FCP foi "obrigado" a ganhar, como um Académica-FCP, que estando empatado (1-1), foi prolongado por 10 mins (!!!) para além do tempo, sem aparente razão para isso, até o FCP beneficiar de um penalty que lhe permitiu ganhar o jogo (para não falar daquela final da taça que foi deslocada para as Antas, e que já aqui recordei). Ou seja, a forma como o FCP ganhou o campeonato, permitindo-lhe assim estar na TCE, fez com que eu não sentisse qualquer motivação para os apoiar na final de 87. O episódio do "roubo" do Rui Águas e do Dito apenas foi a confirmação da postura do FCP no futebol português, e os acontecimentos deste jogo são um corolário natural disso mesmo. De qq forma, o meu sentimento não é de ódio, pois isso para mim seria dar importância a mais a algo que não merece. Até pq tenho amigos e familiares adeptos do FCP que de forma alguma alinham com a postura actual do FCP e do seu presidente.

Francis: se quiseres, arranjo-te uma conta de GMail, já que o Hotmail é muito limitado para envio de mensagens com attachments grande, sobretudo por parte de quem envia...

D'Arcy: obrigado por completares as memórias! A recordação que tenho do jogo é proveniente do relato radiofónico e o resumo dos golos (e do remate do Thern ao post). Provavelmente até comprei "A Bola" no dia seguinte, mas não me recordo da análise ao jogo.

 
At 6:39 da tarde, Blogger Francis said...

Ok, manda-me o Gmail. também podes ir a este link e explorar:
www.slbenfica.pt/Centenario/centenario_100dias100anos_1971.asp
Um abraço.

 
At 6:52 da tarde, Blogger S.L.B. said...

TMA: pois, agora que falas lembro-me desse Académica-clube regional. Salvo erro foi o jogo em que o Futre dá um mergulho e o árbitro marca penalty, não?

Não duvido que haja adeptos do clube regional que não alinham com o seu presidente, no entanto não se manifestando (a oposição interna pura e simplesmente não existe) e calando-se, consentem e são coniventes com o que se passa. Mas o meu ódio é mais dirigido ao presidente e a certos adeptos que, apoiados por ele, acham que são donos da cidade do Porto.

 
At 11:50 da tarde, Blogger tma said...

SLB, de facto foi esse lance do Futre (já nem entro pela questão de ter sido mergulho ou não, pois sabemos que o Futre era um mestre nessa arte e por vezes era difícil saber se era mergulho, ser era mesmo falta, ou até as duas coisas ao mesmo tempo).
Quanto a não haver oposição interna ao Pinto da Costa, a questão é: e quem é que tem coragem para o enfrentar?

 
At 11:42 da manhã, Blogger D'Arcy said...

Lembro-me vagamente que houve uma vez que um tipo qualquer se opôs ao PC numas eleições. Esse senhor era dono de uma garagem no Porto. Por acaso, pouco antes das eleições, a meio da noite um violento incêndio deflagrou nessa garagem...

 

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