Sábado, dia 15 de Outubro de 2005, 21:00.
Quando está prestes a iniciar-se, no estádio do Dragão, mais um FCP-Benfica, recuo na memória, pela milionésima vez neste dia, até ao dia de Abril de 1991 marcado para o confronto entre estas duas equipas na cidade do Porto (então no estádio das Antas), em jogo a contar para o campeonato da 1º divisão da época de 1990/91.
Antes desse jogo começar, o Benfica liderava o campeonato com a vantagem de apenas 1 ponto sobre o adversário desse dia, o FCP. Para o FCP, era crucial vencer esse jogo, pois já não faltavam muitas jornadas para o final do campeonato. Em caso de empate, obviamente que o Benfica seria a equipa que mais beneficiaria com o mesmo.
O ambiente criado para a "recepção" ao Benfica, pelas hostes portistas, foi terrível. O autocarro do Benfica foi apedrejado à chegada, os jogadores não puderam equipar-se nos balneários devido ao intenso e insuportável odor e já no relvado, constatou-se que as faixas laterais tinham sido regadas para dificultar a movimentação dos extremos do Benfica (Vítor Paneira e Pacheco), um dos seus principais recursos ofensivos.
Em campo, a história foi outra. O Benfica controlou o jogo de início ao fim. Durante a primeira parte, a melhor situação de golo foi criada pelo médio sueco Jonas Thern (outro grande jogador que representou o Benfica e que com Valdo formava uma óptima dupla no meio campo) a enviar a bola ao poste, após remate de fora da área. Chegado o intervalo, com 0-0 no marcador, lamentei, como sempre, o facto de não termos marcado naquela situação, pois nestes jogos, o desperdício de oportunidades pode ser fatal.
Na segunda parte, o Benfica continuou a controlar o jogo, na medida em que o FCP não estava a revelar-se particularmente ameaçador e era ao Benfica a quem mais interessava o empate.
Eu naturalmente pensava que o empate era um bom resultado, mas temia que, numa bola parada ou num lance furtuito, o FCP alcançasse os seus intentos...
Para a recta final do jogo, o Eriksson (que havia regressado ao Benfica na época anterior) resolveu lançar o César Brito no jogo. Ao saber que ele iria entrar, pensei que o Rui Águas (outro grande jogador, para mim o melhor avançado português desde que o Nené e do Jordão chegaram ao fim das suas carreiras) seria o candidato a sair, de modo a refrescar o ataque.
Mas quem saíu foi o Pacheco... Ou seja, o Eriksson terá percebido que o Benfica tinha ali uma excelente oportunidade para ganhar o jogo, ao colocar um avançado no lugar de um médio-ala.
O que é certo é que, passado não muito tempo após a entrada do César Brito, o Vítor Paneira, numa jogada pela direita, faz aquilo em que era exímio: ir à linha e centrar para a cabeça de um avançado, com uma enorme precisão. O avançado a quem o centro se destinava era o próprio César Brito, que aperece ao primeiro poste, isolado, a corresponder da melhor forma ao centro do Paneira: golo!!
(imagens dos golos cedidas por... advinhem quem ;-) ? ) Não me recordo de, antes daquele jogo, e em jogos para o campeonato, o Benfica ter estado alguma vez em vantagem frente ao FCP, nas Antas, quanto mais ter ganho um jogo. Por isso, e uma vez que faltava apenas 10 mins. para o fim do jogo, preparava-me para assistir a um momento histórico.
Ainda estava eu a pensar se o Benfica iria conseguir segurar a vantagem, quando numa jogada pelo lado esquerdo, o Valdo, com um passe fantástico, deixou o César Brito isolado, cara-a-cara com o Vítor Baía. Perante a saída do Baía, já em queda a tentar fazer a "mancha", o César Brito, com grande calma, colocou-lhe a bola por cima, fazendo assim o 0-2, a cerca de 5 mins do fim!
Tal como o jogo estava a decorrer, com o Benfica a controlar os acontecimentos e a ganhar por 2-0 tão perto do fim, tinha a certeza que a vitória não iria fugir. E de facto, assim foi. Pela primeira vez na minha "carreira" de benfiquista, vi o Benfica a derrotar o FC Porto no estádio das Antas, ainda para mais, em circunstâncias que colocavam o Benfica em vantagem privilegiada para se sagrar campeão (tal como veio a acontecer), aumentando a vantagem para 3 pontos (na altura as vitórias valiam apenas 2 pontos).
O que sucedeu depois do jogo (agressões e ameaças a dirigentes do Benfica, onde se destacou essa figura tristemente célebre, o guarda Abel), apenas menciono para registar o facto, já que este não é o espaço para discutir a gravidade dessas ocorrências e o mau perder de certos portistas.
E embora eu tivesse preferido que essas cenas não tivessem ocorrido, acabaram por servir para valorizar a vitória - merecida, diga-se - do Benfica!
Mais importante que isso, para a história ficaram, acima de tudo, e para além do resultado, os dois excelentes golos do César Brito, que deste modo conquistou um lugar na galeria de heróis benfiquistas!
César Brito festejando a vitória, com o capitão António Veloso (à direita) e o sueco Mats Magnusson em plano de fundo.
(Foto gentilmente facultada pelo Francis) Regressando ao dia 15 de Outubro de 2005, antes de o jogo se iniciar, estou confiante que é desta vez, passados 14 anos sem que entretanto o Benfica tenha logrado vencer no terreno do FCP (que entretanto passara a ser o estádio do Dragão), que o Benfica vai repetir a proeza para a qual, naquela tarde de Domingo de Abril de 1991, o herói César Brito contribuiu com os seus 2 golos.
O que se passou nas quase 2 horas seguintes naturalmente também me ficou na memória (que espero mais tarde transcrever). Para já, a importância do resultado final foi para mim motivo para antecipar o relato daquela vitória de 1991, quebrando excepcionalmente a sequência cronológica que tenho seguido para escrever os meus posts.